
Um sorriso. Um compasso de espera. Digito os números. Faço o telefonema. Um silencio. Um morder de lábios. Um “tou” do outro lado. Um alivio deste.
- Quero pedir-te uma coisa que sei que tu gostas…
- Ah sim...?
- Sim...
- E o que é…?
- Fode-me.
- Agora?
- Sim.
- Hum… Deixa-me ver. Por onde queres que comece?
- Por onde quiseres.
- Mas tens a certeza?
-Tenho. Quero agora.
- Ouve-se uma gargalhada do outro lado.
- Do que te ris?
- Do teu pedido.
- Porque?
- Porque sim.
- Já o fizemos algumas vezes.
- Eu sei, mas parece que te adivinhei o pensamento.
- Então?
- Espera mais um pouco e verás.
- Estas a deixar-me curiosa.
- Já falta pouco. Espera.
- E impaciente…
(toca a campainha)
- Tenho alguém a porta. Espera um pouco.
- Sim…
Espreitei pelo óculo. Arregalei os olhos.
A surpresa deu lugar à excitação, e a uma gargalhada agora vinda deste lado, aquela visita fez-me dar fim ao telefonema. Abri a porta.
Sorriste e
- Dizias... ?
Sempre me deliciei quando sentia a tua viscosidade nas minhas mãos, na minha boca, quando entre o culminar da nossa excitação e o descanso dos nossos corpos te sentia assim, entregue, satisfeito no prazer que te invadia o corpo e te deixava inerte, quase sereno não fosse o ofegar da respiração que ainda se fazia sentir em ti.
Sempre que apenas me tocavas ainda vestidos a minha pele dava sinal, os meus seios rijos, sequiosos da tua boca, da tua língua, da violência dos movimentos em que mostravas que era tua, era e sempre foi um dos maiores sinais, que apenas bastava estares perto a poucos centímetros de me tocares e que apenas com a imaginação me elevava aos píncaros! Sim, agora sinto-me verdadeiramente entregue, não entrego apenas o meu corpo ao desejo, mas tudo em mim me revela, me denuncia. Tudo em mim sinto que te dou.
Quando me dou. Quando me queres. Quando estas aqui.
Onde estas agora?
Nos últimos dias tem-me vindo à memória algumas das minhas experiências amorosas e algumas inclusivamente ate desastrosas, mas que deixam aquela velha saudade de repetir, ou pelo menos de voltar aqueles velhos tempos que parecem ter ficado bem longe.
Talvez porque esteja de ferias e algumas situações fizeram despoletar as memórias que tenho desses tempos.
Uma delas, passou-se quando ainda morava em Lisboa e num bairro antigo daqueles que todos nos tão bem conhecemos, onde existe uma igreja com um copula arredondada e que na escuridão da noite, tinha uma figura imponente, altiva mas que servia um pouco de esconderijo nos lugares mais recolhidos onde os casais de namorados que andavam por ai perto, davam largas a sua imaginação. Nessa noite, o céu estava estrelado, a noite quente, e o calor que aflorava entre mim e o Zé, um rapaz que tinha conhecido num trabalho a part time que tinha iniciado entretanto enquanto estudava, estava a dar ar da sua graça entre abraços e beijos, o roçar dos corpos, entre as mãos que percorriam sítios proibidos e que nos estavam a deixar de agua na boca, querendo mais ainda.
Estávamos nisto quando um senhor já de uma idade avançada abriu as portadas da janela de par em par e gritou do outro lado da rua.
Escusado será dizer que nos chamou todos os nomes e mais alguns, e que apanhamos um susto de morte, porque alem de estar tudo em silencio aquela hora da noite, desatou aos berros, mesmo que não estivéssemos a fazer nada que fosse mais alem do que descrevi, mas ouvimos de tudo, ate que esse mesmo senhor se decidiu a fechar novamente as portadas e voltar a sua vida.
Ficamos um bocado envergonhados, admito.
Quem é que já não foi apanhado em situações destas?...
No fim, ate nos rimos com a situação, e escusado será dizer que naquela altura alterou completamente o desenrolar dos acontecimentos…
Mas voltamos noutro dia…
E não voltamos a ver a dita figura!
Parece-me que foi ontem que me pedias para esperar por ti.
Acreditei pelo que lutei por tanto tempo contra o que remava em direcção a mim, contra o nós que nunca existiu, contra tudo o que se passava a nossa volta, onde dávamos o nó à vida numa ilusão teimosamente inocente. Hoje acredito que lutei contra cavaleiros sem espada, que lutei contra a vida que segue o seu rumo, contra um destino em que não acredito. Apenas resta a magoa, o pouco da vida que me resta sem ti.
Se não sabes o que é Dor, não sabes o que é Amar. Se não sabes o que é esperar, não sabes o que é enlouquecer. Se não sabes perdoar é porque não sabes esquecer.
Eu fico com a dor.
Tu não sei.

Sim. A minha vida seguiu em frente. Comecei por não gostar de ti e de te ignorar. Aos poucos conquistaste-me com o teu sorriso particular. Com a sinceridade que brotava de ti. Com o jeito desajeitado do teu ser. Os dias não pararam, nem as horas, nem os segundos mas a vida continuou o seu percurso. Segui em frente na estrada, escalei montanhas, desci vales e quase que cai em precipícios. As vezes quase que sinto que te esqueci, outras vezes ferve a saudade em mim. Mas a vida continua. E continuou no dia em que partiste. Quase que acredito que foi para sempre.
Porque a esperança não morre nem eu a quero deixar morrer.