Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2013
Lembras-me quando não precisava do grito para me entenderes. Lembras-me o desembaraço com que apenas uma expressão minha te dizia tudo e como o replicavas da mesma forma. Lembras-me os longos discursos que tínhamos apenas com a troca de olhares suspensos e do bater das pestanas em movimentos descoordenados mas cintilantes e que só nós entendíamos o que queriam transparecer. Lembras-me o gesto fácil com que te agradava e que lhe compreendias o sentido silenciosamente sem te denunciares. Lembras-me que na conjugação dos nossos sorrisos tudo ficava mais nítido. Mais límpido. Mais intimo. Lembras-me quando não era preciso estarmos presentes para que tudo fosse simples e nobre entre nós com a mesma naturalidade como o cheio enche o vazio. Com a mesma autenticidade com que te sorrio e tu sabes que sim mesmo sem o sentires. Assim como a porta que não vou fechar. Assim como a porta que ainda não sei se abriu.
Assim como não sei quem tu és. Assim como não faz sentido recordar-me de ti.