António.
Era assim que ele se chamava.
Eu tinha 14 anos naquela altura. Ele, mais um do que eu. Estávamos nos primeiros dias das férias. Tudo foi planeado por mim ao pormenor. O dia, o motivo pelo qual iria a sua casa. Tinha até um motivo bastante válido, um trabalho de grupo que tinha urgentemente que ser acabado.
Foram bastantes os olhares, os sorrisos, que levaram até ao dia que decidi que seria com ele. Que ele seria o escolhido para o meu primeiro beijo, de língua. Beijo que queria experimentar. Tínhamos combinado no último dia de aulas antes das férias, que estaria em sua casa a uma determinada hora, no dia seguinte. E ali estava eu à porta do seu prédio a tocar a campainha à hora combinada. O prédio já demasiado antigo, admirava-me como a campainha ainda funcionava. Nada. Esperei. Ansiosa por algo que tinha imaginado que ia acontecer, vezes sem conta, na noite anterior, nos dias anteriores a muitas noites que se antecederam. Tentava imaginar qual seria o sabor dos seus lábios. O seu gosto. Como beijaria. Voltei a tocar e mais uma vez esperei. Vi-o ao virar da esquina. Disse-me olá, e sorriu. Sorri-lhe também. Subimos as escadas em silêncio, o nervoso miudinho instalou-se, o coração batia apressado. Estar perto dele, com aquelas ideias na cabeça, estava-me a deixar nervosa. Concluímos o trabalho sem grandes demoras. Levaste-me até à porta. Até que arranjei a coragem para fazer o que me tinha proposto. Aproximei-me e sorri e esperei por um sinal de que também querias o mesmo que eu. E um beijo com um entrelaçar de línguas, com gostos confusos e sem qualquer nexo surgiu. Uma confusão de sensações barrou todo aquele momento que tinha tudo para ser mágico.
Não voltei a repetir. Pelo menos com António.