Algumas semanas passaram.
Muitos dias passaram também em que não atendi as tuas chamadas, em que apaguei as tuas mensagens sem ler, em que não abri a porta quando voltaste a tocar a campainha uma e outra vez.
Tiveste a infeliz ideia de esperares por mim perto do meu local de trabalho, é claro que aproveitei para te dizer tudo aquilo que tinha visto e que pensava a respeito, não talvez com tanta delicadeza como estou aqui a descrever, mas terminei arrematando para pensares melhor no que andavas a fazer.
Saíste cabisbaixo, nunca mais te voltei a ver depois desse dia. Nem eu esperava outra coisa.
Depois desse episodio, a minha vida voltou ao normal, agora definitivamente sozinha, e livre para o me desse na real gana.
Definitivamente, teriam acabado as esperas particularmente irritantes, as desculpas sem nexo, ou incrivelmente óbvias.
Agora sim, sentia-me totalmente dona do meu tempo e espaço.
Já sentia falta de alguém particularmente especial, de alguém que alterasse o meu ritmo de vida sempre demasiado concentrado em trabalho, e em tudo o que me rodeava menos em mim e para o amor, se é que era isso que me apetecia naquele momento.
Nem eu mesma sabia, mais uma mágoa, mais um ressentimento, não obrigada. Também não me sentia com grande vontade de conhecer pessoas novas, de frequentar um ou outro bar, para travar conhecimentos, definitivamente já tinha passado essa fase, agora só de pensar nisso, porque alguém me lembrava quase instintivamente que precisava de sair, espairecer, ainda me fazia querer estar mais em casa, em paz e sossego como tanta vez o dizia para mim mesma e em voz alta.
Mas naquela noite a Paula tinha-me convencido, desculpando-se que precisava de conversar comigo, embora eu soubesse de antemão que seria apenas mais uma desculpa para me tirar de casa, de que qualquer outra coisa, mas por via das duvidas, assenti ao pedido dela.