Sorriste-me de volta.
Assim que cheguei perto de ti, abraçamo – nos como apenas nós sentíamos aquele abraço cheio de sentimento, como se transportássemos para aquele gesto tudo o que nos unia apesar de estarmos longe um do outro, e de nada fazer sentido numa relação como a nossa, mas que sempre íamos alimentando com fé e esperança de um dia tudo mudar. Beijamo-nos de igual modo, os nossos beijos sedentos dos nossos lábios que se uniam sempre com tanta vontade e tanto desejo que ao fim de cada beijo, os nossos lábios ardiam, ficavam sôfregos de tanto que era o nosso anseio.
Acalma-mos um pouco antes de entrarmos para o bar, o meu rosto rosado da fricção da tua barba deixava-me incomodada mas ao mesmo tempo era o aclamar de dois corpos que se queriam fundir, mesmo ali à porta daquele botequim.
Entramos, e naquele espaço o fumo pairava no ar, apesar da pouca luz que apresentava, via-se um balcão ao fundo dessa sala do lado esquerdo, onde alguns rapazes de tenra idade se inclinavam sobre ele para pedirem bebidas a um outro homem, mais maduro, com um rosto que fazia denotar uma vida feita sobretudo à noite, já à bastante tempo. Do outro lado algumas mesas redondas estendiam-se ao longo da sala, e mais à direita estava um pequeno palco de madeira improvisado, embora estivesse vazio, parecendo aguardar já à algum tempo uma banda que teimava em não aparecer. Mais perto do bar e da porta estava uma mesa de bilhar, onde estavam um grupo de rapazes e raparigas a jogar e a bebericar cerveja rindo às gargalhadas de algo dito anteriormente.
Dirigimo-nos ao bar e pedimos duas bebidas enquanto ouvíamos a música um pouco alta para aquele espaço, mas que parecia não incomodar ninguém, excepto nós. Falamos, sorrimos, trocávamos olhares que nos denunciava, dançamos ao ritmo de uma música rock já um pouco antiga, roçamo-nos descaradamente sem nos importarmos com os olhares subtis de quem estava à volta mas que não nos passaram despercebidos, provocando em nós, mais vontade ainda de atiçar, mais desejo, mais loucura.
- Hoje tenho uma surpresa para ti. – Disseste – me ao ouvido, de maneira a conseguir ouvir no meio daquela musica ensurdecedora.
- O que é?
- Já vais ver…
Pegaste-me pela mão, pagámos as bebidas e saímos do bar.
O frio parecia facas a espetar-nos a carne, tiritava os dentes de tão gelada que fiquei nos instantes a seguir, não se podia estar muito tempo na rua, abraçando-me para me protegeres do frio encaminhaste-me para a porta da pensão onde estavas hospedado.
- Entra…