Desde muito cedo que aprendi a viver com regras sociais bem precisas, com um autoritarismo bem vincado com uma educação rígida, bem delineada. Sentia pavor do que me rodeava fora daquilo que tinha aprendido, e protegia-me atrás de uma protecção invisível que tinham feito por mim, do Mundo lá fora. Senti na pele a rigidez de uma educação e que ate hoje sinto que me modelou ao longo do tempo e que ainda noto de vez em quando um ar da sua graça. Vivi demasiado tempo sob regras, mandamentos de uma educação rígida que me limitou os movimentos, que me fez tardar o sabor a Liberdade.
Mas o espírito de revolta formou-se lentamente, secretamente, tentava agora fugir das correntes que me prendiam a algo que já tão bem conhecia e que interiormente não desejava para mim. Num dia de fúria assumi que não era aquilo que queria, que pensava por mim, que era Eu, sem precisar de ninguém para me mostrar a rota por onde devia seguir. Assumi a minha loucura, libertei-me, fugi de território seguro, mas que me proibia os movimentos, que me sufocava diariamente e me estrangulava o espírito inquietante que se tinha formado até então.
Queria dar os meus próprios passos, cambalear e tropeçar as vezes que fossem precisas, pois tinha-se formado um terrível desejo de independência pelo qual me sentia impelida a tomar as rédeas da minha vida.
Fui percebendo que tinha perdido tempo demasiado, que estava mesmo ali á espreita pronta para ser sentida, e que finalmente seria dona dos meus próprios movimentos. Senti-me emergir de um sono inconsciente, senti um chamamento que me fez despertar, para o que se estava a passar.
Afinal tinha medo de viver porque tinha medo de me afirmar como sou, o que penso, o que vejo e por onde sigo.
Hoje não sou nada daquilo que era e vejo tudo pelo que passei a uma distância enorme, hoje, apontam-me por ter uma personalidade muito forte, de saber bem o que quero, de lutar afincadamente pelo que acredito.
Esta é a minha grande vitória.
Este sim , é o meu verdadeiro Eu.