Tudo fez prever aquele momento.
As mensagens anteriormente trocadas. A cumplicidade. O erotismo no seu conteúdo. A provocação sempre presente.
Deixei de sentir o chão que pisava, para flutuar e alcançar apenas as sensações que já não sentia há algum tempo. Senti a comunhão entre um sentimento verdadeiro e o desejo puro. Ultimamente, ou era um, ou eraoutro. Nunca os dois em simultâneo. Senti que o meu corpo me abandonava, quandosem avisar deixaste-me suspensa no momento.
Senti-o Arrebatador. Intenso. Delicioso. Devorador de Almas. Violento. Por mais que tente nenhuma palavra sozinha é suficiente para o descrever completamente.
Nada faria prever que este reencontro, mesmo no meio da rua se ia desenrolar desta forma.
Eu sabia que tu o desejavas e que o desejo era recíproco. Assim como sabia que tu também estavas ciente do poder que exerciasem mim.
Olhaste mais uma vez para mim.
Partiste sem proferir palavra.
Reconheci-o de imediato.
Um rosto marcado pela vida madrasta e pelo seu próprio trabalho. Pela dureza que a vida lhe impôs, pelo divórcio, pelos filhos.
Já nos tínhamos cruzado e trocado algumas palavras no meu local de trabalho. Sorrimos ambos, em sinal de reconhecimento, naquela estação de comboios onde menos estaria à espera de encontrar tal personagem.
- Venha comigo, disse-me.
Disse-lhe que não podia pois o meu bilhete não era para aquele comboio, mas afirmou que não tinha qualquer problema. Assenti com a cabeça visto que assim pouparia cerca de quarenta minutos de espera e segui-o até à carruagem do bar. Sentamo-nos suficientemente perto, podia agora apreciar-lhe o rosto que sempre me tinha atraído naquele homem sempre tão misterioso, e que sempre me tinha suscitado curiosidade em conhecer melhor, e agora ele estava mesmo ali tão perto de mim, do meu olfacto que lhe sentia o odor, do meu corpo que quase sentia o dele.
Fomos metendo conversa, onde vi satisfeita alguma da minha curiosidade em relação à sua rotina, à sua profissão, aos seus interesses. Enquanto discutíamos alguns pontos de interesse a ambos, abstraia-me do que dizíamos e imaginava aquele mesmo rosto a olhar para mim secretamente, a apreciar-me subtilmente os contornos do corpo. Tocava-me agora em jeito de sedução, de cumplicidade, de desejo contorcido na vontade de me acariciar, enquanto me puxava em sua direcção a fim de sentirmos o beijo que partilhávamos de uma forma intensa, apaixonada, sequiosa. Acordei da fantasia que parecia tão real, tão partilhada pelos dois quando chegamos ao nosso local de destino.
Sorriu, perguntou se tinha meio transporte, disse-lhe que sim, disse-me adeus, até qualquer dia.
Restou-me um travo a amargo por não termos trocado números de contacto.
Será que voltarei a ve-lo?...