Escutava-o.
Entre respirações arquejantes e gemidos asfixiados, destacava-se uma voz masculina grave e ligeiramente dominadora, nos pedidos que fazia.
Firme, sussurrava palavras que me excitavam a mim, que as ouvia surpresa, mas mais ainda a quem executava as suas ordens com prontidão, no meio daquelas escadas que davam para o pátio.
A pouca luz que iluminava aquele vão de escadas, contornava a linha dos corpos que juntos partilhavam um acto de prazer comum a ambos, e que pareciam tentados a deixarem-se levar pela fantasia que partilhavam ali, comum a todos mas em que só eles participavam.
Pelo menos assim julgavam.
Só te quero por perto
Se é certo ou incerto
Ninguém sabe...
Corres, tropeças
Atrás de algo que desvaneceu
Quem se perdeu
Foste tu ou fui eu?
Não me sorrias
Quando queres chorar,
Não me beijes,
Quando queres gritar.
Não me enganes
Quando me dizes que não
E me queres
Perdidamente.
Enche-me o peito de ar.
Preenche o ar de um Momento.
Sente Profundamente.
Se tu.
Simplesmente.
Pressinto um rasto fresco com um aroma ligeiramente adocicado. Palmilha-me os sentidos e sigo-o assim cegamente entre curvas e becos, sem sequer olhar para trás, em busca das suas origens, em busca do que me atrai e prende a este rastilho. Paro. Inspiro mais uma vez com receio de o soltar de mim.
Sinto-o mais perto. Mais presente. Mais... intenso.
Deparo-me com um grupo masculino que passeia tranquilamente na avenida uns metros mais à frente, que seguiam numa conversa animada em que nao lhes distingui as palavras, apenas o aroma que me fazia aproximar mais e mais.
A qual deles pertencerá?...