Não soube o que lhe dizer naquele momento e não me pareceu que ele quisesse que lhe dissesse alguma coisa, porque depois de o ter dito, simplesmente trocamos um beijo apaixonado, dois e muitos mais.
Acabei por não lhe dizer qual era a minha resposta à sua pergunta, mas havia uma concordância implícita que não precisava de ser mencionada.
Nada era preciso ser dito, apenas era bom saber que afinal não estava enganada, que havia um sentimento mútuo, mesmo que já o sentisse, mas que ele parecia negar a si mesmo e que até agora tinha feito questão de esconder apesar do que estava a vista de qualquer um.
Ficamos ali abraçados um ao outro, eu completamente aninhada nos seus braços, a combinarmos pormenores da viagem, afinal ele tinha adiado por mais um dia a sua viagem para que eu pudesse tratar de tudo, mesmo ainda sem saber nessa altura qual seria a minha resposta.
Era impressionante, as vezes com que ele me arrebatava com os seus actos, e pela positiva. Sentia-me amada, acarinhada, algo que já não sentia nem sabia o que era há muito tempo e isso fazia-me sentir segura ao seu lado, apesar das duvidas que me tinha feito sentir até à bem pouco tempo. E mais ainda depois deste convite inesperado, que se não tivesse existido, o meu dia seguinte seria diferente e o dia dele seria de viagem para bem longe dali.
- Já viste as horas? Perguntou-me.
- Já, já tinha visto. Mas o que foi?
- Tenho de ir.
- Ir para onde? Perguntei com um sorriso revelador das minhas intenções.
- Para casa, preparar o resto das coisas para levar.
- Não vás. - Disse-lhe. – Fica aqui esta noite.
- Leonor…
- Não digas nada. Fica simplesmente.
Olhaste para mim como me adivinhando os pensamentos, mas ainda resististe por mais algum tempo.
Mas sabíamos que era desejo de ambos o que estava ali a acontecer, e não havia mais como negarmos a vontade que tínhamos em partilhar o corpo um do outro, o prazer que tínhamos trocado à instantes entre beijos que se degustavam de um copo de vinho que ambos tínhamos partilhado momentos antes, entre conversas e risos, entre olhares e desejos silenciosos que se revelavam a cada toque nosso, mesmo que nao premeditado, mas que nos fazia estremecer a ambos num prazer partilhado.
Chegaste quase no mesmo segundo em que tinhas tocado à campainha, ou pelo menos foi isso que me apareceu. Ainda vinhas com as calças enroladas até ao joelho, como estavas na praia quando te deixei, vinhas exasperado, parecia quase que não tinhas tempo a perder.
- Convidas-me para entrar ou não!? – Perguntaste ofegante com um sorriso de orelha a orelha, quando eu ainda estava entregue a estes pensamentos.
- Sim, claro, entra!
Fomos até à sala onde te sentaste no sofá mas numa espécie de frenesim que se notava à distância.
- Estas bem? – Acabei por perguntar.
- Óptimo! E tenho uma coisa para te perguntar…
- Pergunta.
Fiquei à espera que recuperasse a respiração, pois parecia que tinha acabado de fazer uma maratona e que tinha acabado de chegar à meta.
- Leonor, queres vir comigo e passares o resto das tuas férias em Inglaterra? – Podes sempre passear mesmo quando eu estiver na empresa e não te vais aborrecer te garanto, vou-te indicar sítios maravilhosos e sei que vais gostar. Que me dizes?! Quando for altura de voltar, vens.
Fiquei sem saber o que lhe dizer. Com esta é que eu não contava, e se por um lado seria bom, estaria com ele, ou pelo menos perto e aproveitaria para conhecer novos lugares, por outro não sabia bem o que pensar da sua atitude, ou o que o fez querer algo deste género e como faze-lo falar sobre sentimentos não era fácil, não sabia como abordar o assunto sem que ele percebesse, mas algum significado eu teria para que me fizesse o convite.
- Eu gostar até gostaria, mas…
- Mas o que?
- Mas… tenho uma pergunta para te fazer.
- Faz.
- O que é que isso quer dizer? Ou melhor, porque eu?
- Já são duas perguntas… - respondeste ironicamente com um sorriso matreiro nos lábios.
- Não brinques. Responde-me.
- Porque gosto da tua companhia. Porque és alegre. Porque me fazes bem. E porque… estou apaixonado. Descobri isso hoje quando te vi partir.
Um arrepio na espinha que me percorreu todo o corpo, um engolir em seco, um nervoso miudinho, as faces que senti corarem, um mau jeito para o olhar nos olhos depois, denunciaram-me por completo, sentia agora as lágrimas a correrem mas de felicidade.