O dia estava ameno e a brisa que soprava na praia roçava-me o rosto, sentei-me numa das cadeiras da esplanada e fechei os olhos, virada para o mar, parecia mais um dia de Primavera, os meus preferidos, do que um dia de Verão. O calor em demasia sempre me incomodou, e o dia estava perfeito a meu ver, o calor na medida certa, o céu perfeitamente limpo e a brisa que refrescava ligeiramente.
Estava a atrasar o meu telefonema para o avisar que tinha chegado, algo me dizia que a conversa não seria agradável ou que alguma coisa se iria passar que nos iria afastar, era essa a ideia com que tinha ficado e isso não me saía da cabeça. Mas não podia adiar mais, até porque quanto mais depressa ficasse a saber, mais depressa se resolveria, não sabia era bem o que, independentemente de ser bom ou mau. Raramente o meu sexto sentido me traía, não me parecia que fosse algo bom, e duvido que me traísse desta vez.
Liguei. Voltei a sentir-lhe a estranheza na voz, diria mesmo até uma espécie de conformismo. Comecei a sentir o coração apertado, o sentimento de perda, o medo a surgir sem ainda saber o porquê. As minhas pernas já tremiam e o nervosismo apoderou-se totalmente do meu corpo. Pedro estaria ali dentro de poucos minutos, era só o tempo de chegar pois pelo que me disse já estaria a caminho, e eu não sabia se iria conseguir disfarçar o que estava a sentir naquele momento. Era demasiado mau, e disfarçar o que sentia não fazia parte da minha maneira de estar, e sabia perfeitamente que não iria faze-lo pois dificilmente o iria conseguir e por isso mesmo nem valeria a pena tentar.
Tentei apenas por momentos afastar aqueles pensamentos da cabeça, talvez assim conseguisse ter um ar menos preocupado, enquanto apreciava as crianças a brincar na praia, os mergulhos e um casal de namorados que parecia bastante animado em brincadeiras típicas de quem esta apaixonado, sem problemas em viver o que sentem.
Algo que até agora não tinha conseguido ter com Pedro, e pelo que o meu instinto me dizia, talvez nunca chegasse a acontecer.
Tento negar-te.
Achar que nao passas de um sopro do vento que tenta entrar atraves das portadas da minha janela. Uma brisa que corre mas que nao se ve. Um sol que brilha mas que nao aquece. Uma chuva que cai mas que nao me molha.
Mas sinto o vento, a brisa e o calor que o sol me traz. Como o molhado dos salpicos da dor ...que doi e que não secam...
Passamos mais um dia agradável juntos.
Desta vez longe da praia, longe do ambiente a que ele estava acostumado, e eu adorei mostrar-lhe os sítios que para mim eram especiais. Quando estava com ele o tempo passava a correr, mas havia coisas que me deixavam intrigada em relação à vida que ele levava, mas tinha preferido guardar para mim, sem me revelar demasiado curiosa. Era a primeira vez que o via a conduzir, nem sequer tinha percebido que tinha um meio de transporte antes daquele dia. Não trabalhava, ou melhor, pescava quando lhe apetecia, e como ele próprio dizia, não era para seu sustento.
Já tinha percebido que ele tinha algum tipo de negócio em Inglaterra, mas nunca aprofundamos muito esse assunto.
Preferi nunca lhe invadir o espaço e ele por sua vez fazia o mesmo, não se pronunciando e não fazendo perguntas sobre o meu passado. Estávamos a apreciar aqueles momentos juntos, vivendo apenas o presente, sem reviver histórias ou a prever futuros. Os planos que eu tinha feito para as férias adiei-os, talvez um dia fizesse a viagem que tinha programado, com ele, se se chegasse a proporcionar.
Tudo parecia perfeito. Perfeito demais para ser real.
Tão perfeito que no dia seguinte, quando ouvi a voz dele do outro lado da linha, algo me pareceu diferente, quase estranho. Parecia distante, apesar de o conhecer há pouco tempo não me passou despercebida essa distância, e não sabendo explicar porque, deixou-me apreensiva aquela voz que de repente passou de agradável, franca para apreensiva, cautelosa.
Combinou-se um lanche na esplanada à beira da praia que estávamos acostumados a frequentar, uma esplanada simpática toda construída em madeira, inclusive o bar, um pouco distante da confusão da praia principal. Queria falar comigo algo, segundo me transmitiu importante, e naquele preciso instante que desligamos a chamada, o chão pareceu-me fugir dos pés, a pouca segurança que tinha deixou de existir, para ser substituída pelo medo de o perder. De alguma forma pelo menos.
Correu o pano. Começou a peça. Os actores aproximam-se, o enredo começa.
Faz comigo a tua história. Faz de mim a principal actriz !
Na manhã seguinte, o sol irradiava pela janela do meu quarto.
Acordei cedo com os seus raios a ferirem-me a vista e a primeira coisa que me veio à memória foi a noite anterior, e no conjunto de emoções que tinha sentido, que já não estava habituada, afinal não tinha ninguém já há algum tempo visto que ninguém me despertava interesse nos últimos tempos. Não que não gostasse de namoriscar e ter um envolvimento ou outro de vez em quando, mas nada que me fizesse sentir por muito tempo alguma coisa. Tinha conhecido algumas pessoas desde que me tinha separado, mas ninguém que se mostrasse interessante aos meus olhos, ou até que me motivasse de alguma forma. Sexo não era problema, mas sinceramente, nem por isso me sentia movida, queria mais, algo que me fizesse sentir, que me fizesse sentir única.
Sobressaltei-me com a chegada de uma mensagem.
“ Bom dia. Pequeno-almoço? “
Pisquei os olhos várias vezes, para tentar perceber se não estaria a sonhar. Não estava a perceber qual era a sua intenção.
- Estou? Bom dia… - disse.
- Olá! Acordei-te?
- Não. Tinha acordado há instantes.
- E então, aceitas a minha proposta?
- Mas onde? Ainda estou deitada…
- Então, pode ser mesmo aí.
- Aqui?
- Sim, estou a chegar.
- A chegar onde?
- Pois, isso terás que ser tu a dizer-me. – Disseste meio a sorrir, a tua expressão era evidente deste lado e eu cada vez estava mais confusa.
- Estas a caminho… daqui?
- Sim! Só tens que me dizer onde é!
Fiquei a pensar que estaria mesmo a sonhar, quando desliguei o telefone. Não tive muito tempo para reflectir, pois segundo as indicações que lhe tinha dado, mais ou menos dez minutos era o tempo que demoraria até ouvir a campainha e ver um sorriso enorme assim que abri a porta.
- Olá, bom dia!
Estavas com um olhar radiante, parecia que estavas acordado a horas e eu ainda meio a dormir, mal tinha tido tempo para lavar a cara, vestir-me e dar um jeito ao cabelo.
Trazias um cesto cheio de coisas apetitosas que me fez soltar uma gargalhada.
- Mas afinal isso tudo é para o pequeno – almoço ou para uma semana inteira!?
- É para agora, vá indica-me onde é a cozinha!
Estavas a ser uma caixinha de surpresas e eu estava a adorar, mais do que devia, mais do que queria. E a cada dia que passava eu estava cada vez mais surpresa com a sua mudança de atitude, com a sua vontade de estares por perto, já não parecia em nada o homem que tinha conhecido e eu estava a adorar aquela mudança.