Bem...
É claro que fiquei a saber muito brevemente de quem se tratava, mas em vez de ligar mandei algumas mensagens, talvez porque pudesse estar redondamente enganada, mas afinal não. J
Pois era. Tratava-se de uma paixoneta de há alguns anos trás, que através desses canais de chat televisivos, que todos nós tão bem conhecemos ou já experimentamos alguma vez, se revelou deveras excitante. Breve. Mas intenso enquanto durou.
Primeiro as conversas um pouco tímidas, depois passando para as conversas descontraídas e finalmente para as mais ousadas. O conhecimento foi aumentando. A vontade de nos conhecermos também. O tesão foi fortalecendo essa vontade de um contacto físico, deixando para lá as palavras, para os momentos vazios. Ate aquele encontro final. E que encontro…
Foi uma experiência. Uma experiência deliciosa para talvez um dia voltar a ser repetida… JJJ
O telemóvel tocou.
Algo demasiado vulgar, dirão vocês. Mas não foi a melodia a que já me acostumei a ouvir. Foi apenas um toque. Um toque que me fez ir à procura instintivamente do numero que identificasse a pessoa que o mandou. Numero esse que quando olhei não me pareceu de todo desconhecido, alias até bastante familiar, apenas não me conseguia recordar a quem esse número pertencia. Recordava-me de que tínhamos trocado por muito tempo mensagens à muito tempo atrás, que tínhamos passado muitos bons momentos na partilha de sentimentos e emoções, de risos, de momentos mais íntimos até, apenas não me recordava do nome. Nem da voz, nem a nada que me pudesse revelar algo mais.
Péssima memória a minha, não acham? J
Querem saber de quem se tratava?
Aguardem pelo desenrolar brevemente… JJ
Quando me olho no espelho, imagino no que me levou a criar esta imagem que tenho de mim. No que vejo diariamente através do reflexo do corpo que está deste lado e que está agora diante dos meus olhos neste preciso instante. Vejo-me quando criança, quando o sorriso se revelava fácil mesmo que sem razão aparente, observo o brilho das lágrimas que reluzem e que fazem sobressair o esverdeado dos meus olhos que o castanho teima em esconder, revejo as vitorias que me fazem sentir segura de mim, relembro os piropos que já ouvi e que me fizeram sentir especial, recapitulo poses insistentes frentes ao espelho quando ainda adolescente me decidia pelo que vestir e que me faziam pensar, hoje estas de arrasar!
Soltamos uma gargalhada alta, estridente até.
Eu e tu que te escondes do outro lado do espelho.
Sim. A minha vida seguiu em frente. Comecei por não gostar de ti e de te ignorar. Aos poucos conquistaste-me com o teu sorriso particular. Com a sinceridade que brotava de ti. Com o jeito desajeitado do teu ser. Os dias não pararam, nem as horas, nem os segundos mas a vida continuou o seu percurso. Segui em frente na estrada, escalei montanhas, desci vales e quase que cai em precipícios. As vezes quase que sinto que te esqueci, outras vezes ferve a saudade em mim. Mas a vida continua. E continuou no dia em que partiste. Quase que acredito que foi para sempre.
Porque a esperança não morre nem eu a quero deixar morrer.
É fascinante imaginar que do outro lado da janela do meu quarto poderia estar uma rua bastante movimentada, inundada de pessoas a caminhar apressadamente pelos passeios das avenidas, absortos nos seus pensamentos quase sem repararem em quem passa mesmo ao lado se não fosse um ocasional tocar de ombros. Poderia haver estradas com muito movimento e semáforos que condicionam o transito em ambos os sentidos. Poderia haver arrumadores que insistem em gesticular para quem quer estacionar como se não tivéssemos olhos na cara, lojas e mais lojas que fazem sonhar com os seus espaços publicitários, buzinas que soam sem ninguém pedir ou reclamar a sua falta.
Mas não.
Da janela do meu quarto não observo nada disso.
Apenas a serenidade num horizonte que se suspendeu no tempo.
E eu gosto dela assim.