Rasgo-me em mil pedaços para te desprezar. Recuso as falsas sensações que despertaste em mim. Às falsas alegrias, alterno a hipocrisia das palavras ditas em tantos momentos que me pareciam únicos. Agora junto pedaço a pedaço para ler nas entrelinhas o que preferi recusar-me a ver.
Mesmo assim, resta-me o vazio.
Nos espaços em branco. Nas palavras ditas. Em tudo de ti.
Ele seria o primeiro.
Não parava de pensar nisto, com medo de a magoar, de se expandir como faria com qualquer outra mulher. Os seus dedos exploravam cada centímetro do corpo dela, inocente e ainda tenso, que se ia agora enfraquecendo aos poucos à reacção daqueles toques subtis que ele lhe proporcionava meticulosamente, sabendo bem as sensações que lhe provocava.
Ela mergulhava na sua boca, e sentia-se ousada por descobrir aquele sabor tão doce vindo dele, e ao mesmo tempo se revelava firme e decidida, tentando se abstrair de tudo o resto, deixando de recear, entregando-se ainda que a medo aquele homem que parecia saber muito bem o que fazia.
Como pequenos gestos podia-lhe provocar sensações que lhe atravessavam o corpo em instantes que se repetiam e que a faziam contorcer, ir de encontro ao seu corpo quente que se mostrava decidido a possui-la, mas com calma.
Essa calma que a estava a matar, mas que a faziam amolecer, pensava ele, e que a faziam perder o medo, entregar-se as novas sensações que surgiam a cada instante que a arrebatava, e que a surpreendiam.
Os seus seios correspondiam a cada toque, cabendo em suas mãos e a cada toque de lábios, rendia-se a uma sensação nova que lhe aflorava na pele.
Olhava para ele agora e via as suas expressões enquanto ele beijava as suas ancas e percorria todo o seu intimo com carícias circulares, carícias que a faziam estremecer de deleite, e de choque, mas que não demonstravam urgência em a possuir, deixando que ela sentisse tudo o que ele tinha para lhe proporcionar.
Louco de desejo à muito reprimido, pelo seu odor, pela pele macia que sentia a cada toque, provou-a deleitando-se com o seu sabor a mel e a jasmim.
Ela soltou um gemido profundo, seguido de espasmos que percorriam o seu corpo apenas por instinto puro, pelo prazer que a cobria, pelo deleite de sensações que afloravam-lhe na pele.
Olhou para aquele rosto que aos seus olhos era perfeito, parecia quase um anjo, se é que ele alguma vez tinha visto algum, mas mesmo assim imaginava que seria parecido com o dela. Ela afogou-se nos seus braços e conseguiu sentir ainda a reacção do corpo dela aquela desconhecida sensação.
Sentiu-se feliz. Por ela.
Com serenidade, percorria o caminho que a conduzira aquele lugar que considerou tão especial naquele dia, que por mero acaso tinha descoberto quando andava perdida por ali.
Tentava agora percorrer aquelas ruas organizando-as mentalmente, retrocedendo aquele dia tentando seguir agora pelas mesmas ruelas e esquinas que tinha percorrido a uns anos atrás, pela mesma ordem, revivendo não só os passos dados, mas também o que a tinha levado até aquele lugar.
A mente transtornada que tentava arrumar os seus pensamentos dos episódios vividos a horas atrás, mas sem resultado, os sentimentos confusos que se multiplicavam e que tinham assolado no seu coração, as lágrimas que corriam sem controlo, as roupas molhadas que se colavam ao corpo e que davam uma sensação demasiadamente desconfortável, tudo isto e mais um misto de emoções, às quais não lhes sabia dar nome levou-a a olhar com alguma serenidade para aquele sitio que parecia magico aos olhos de quem estava a viver uma turbulência de emoções.
Debaixo daquela ponte, e mesmo junto ao rio, um misto de vários tons de azul e verde combinavam-se entre si, e ao luar parecia que o próprio rio se tinha transformado, reluzente com os reflexos da lua, prateado em vários pontos, transpirando a calma, onde apenas se ouvia um ou outro carro que passava ainda longe dali. O som das pequenas ondas batiam no mural que separava a pequena e ténue linha entre a terra e a agua, e ali, sem ouvir mais nada que atrapalhasse o estado de espírito que se tinha inundado dela, respirou fundo, sentiu o aroma a agua salgada fundida com o doce do rio e observou em silencio, o outro lado da margem com pequenos feixes de luz que se sobrepunham a escuridão imensa acima do nível da agua e reviveu, reviveu todo o sucesso daquela noite, num misto de medo, pânico e satisfação.
E ali ficou, ate ao primeiro raio de luz principiar no horizonte.