Tenho de ti tudo aquilo que apenas me permiti uma vez, tudo o que sempre ambicionei, mas que bloqueei, que nunca mais me atrevi a apregoar aos sete ventos, a revelar, a demonstrar. Que nunca mais me permiti sentir, sequer a desejar!
Tenho de ti tudo aquilo que perdi um dia. A esperança. O motivo. A ilusão. A ilusão de um dia ter sido feliz. Nunca me autorizei. Nunca pedi. Nunca exigi. Fizeste-me crer em algo que julgava perdido para sempre. Algo que não quero sentir novamente mas que no enredo que me foste preparando pé ante pé, me foste prendendo a pouco e pouco, de mansinho, sem sequer me dar conta, e agora me fez voltar a experimentar. Apenas não quero render-me ao que parece óbvio.
Apenas hoje me permito a sentir.
Hoje em que o dia me parece completamente perfeito…
Se. Mas. Talvez. Porém. Contudo.
São palavras que por si só contém uma conotação de incerteza, uma indecisão, uma incógnita dependendo sempre do contexto em que estão inseridas, obviamente, mas que na generalidade quando inserida em qualquer frase dita banal revela mais de nós do que realmente poderiamos até pensar. Revelam a nossa indecisão perante os nossos gostos, revelam incertezas perante as decisões que tomamos durante a vida, perante os nossos actos, perante ate nos próprios.
Por vezes é complicado fazer com a que a nossa opinião prevaleça em detrimento da opinião geral, mas são esses pequenos desafios que enfrentamos diariamente que fazem a diferença, basta por vezes conseguir colocar aquela dúvida razoável, para fazer a diferença, ou pelo menos sentir essa hipótese.
Na realidade a vida não espera pelas nossas decisões sejam elas as mais acertadas ou não, e muito menos por reflexões demoradas, sejam elas necessárias. Ou não.
A vida não para, simplesmente.
É como a agua que corre no rio.
É como o dia se transforma inevitavelmente em noite…
Vi-te partir.
Não havia mais promessas
Para anunciar
Nem memorias
A evocar.
Nem emoções
Para dividir.
Não havia mais historias
Para reviver
Nem lágrimas
Para chorar.
Simplesmente
Deixei-te ir…
Vi-te fugir
De um momento
Para o outro.
De uma emoção
Que não soubeste
Gerir!
Olhei para trás.
Num simples instante
Partis-te.
Deixei-te ir…
Engoli em seco
Os sentidos.
Bebi da mágoa que ficou.
O coração não chorou.
Agora, é chegado o dia
Deixei simplesmente de fugir.
De ti.
Do passado que restou.
Senti-me cruel.
Voraz nos sentidos que se apuravam a cada instante sempre que o meu olhar percorria o teu, o desejo ardente que me aflorava agora no corpo como um relâmpago fulminante parecia atear tudo o que se tinha silenciado durante anos a fio, por vontade própria, ou talvez não.
Sentia o formigar, o palpitar do coração que aumentava a cada segundo, a cada toque nosso que percorria cada centímetro dos corpos que se libertavam sofregamente de tecidos que pareciam gritar, parecia sentir o teu coração também algo descompassado, trémulo enquanto te rasgava o peito já desnudado.
Tempestuosos por dentro, alheados do que nos rodeava, algo se desatava dentro de nós, enquanto os nossos lábios queriam acalmar o ardor que fervia, enquanto os fluidos corriam de boca em boca, enquanto o pensamento nos levava a algo pecaminoso, ardentemente desejado à muito.
Sentia a flutuação em que os nossos corpos se envolviam, na dança que juntos dançávamos laçados como num só, sentia a flutuação para a qual caminhávamos a passos largos.
Os meus seios já desnudados revelavam o quanto o teu toque me parecia único, apenas o único que me deixava envolvida daquela forma. Estavas sequioso deles, e isso sentia-se, quase
Devoraste-os com a fome que me demonstraste, com a sofreguidão que sentias e que me envolveu numa pilha de emoções. Sempre soubeste que gosto de me sentir dominada, e apesar de saberes que não é isso que se passa na realidade, gostas dessa ilusão e de eu te fazer passar isso mesmo.
Verticalmente agarraste-me e senti a segurança com que entravas dentro de mim, faminto, e com movimentos profundos, ritmados, quase que perdia os sentidos, as sensações estavam a mil, o meu corpo entregue, a noção de realidade que teimava em manter, já à muito que me tinha abandonado. E naquela onda de prazer recordei no passado tudo o que tinhas significado para mim, a paixão que nos tinha cegado a ambos. Encostada à parede fina e gelada apenas te sentia fulminante, provaste-me antes mesmo de ter algo para beberes, de saboreares. Entre gemidos e fluidos saboreei-te também firmemente enquanto te deliciavas a observar-me, da maneira como avidamente te prendia naqueles movimentos que te deixavam a flutuar sem reacção, sem forças para lutar contra o desejo que te estava quase a levar a loucura. Queria sentir-te a viajar, o teu prazer em detrimento do meu, pareceu-me mais urgente, mas cruelmente afastei-te, queria-te de outra forma. Sempre soubeste o que me inebriava, a menina que conheceste continuava ali, agora mulher e tu o rapaz que sempre desejei estava ali agora, apesar de cada qual ter seguido a sua vida. Já de quatro, apoderaste-te novamente do meu corpo, e ao som de gemidos e do prazer, balançavas-te e encheste as tuas mãos com os meus seios que se mantiveram firmes, clamando, querendo sempre mais.
A noite que nos envolvia envolveu também a explosão dos sentidos, da onda de orgasmos que se seguiram, o meu, o teu, o meu e novamente o meu. Caíste sobre o meu corpo, envolveste-me com os teus braços, uma lágrima rolou no calor da emoção. Senti-te assim, completamente rendido, mas eu estava feliz, porque afinal…
O sonho pareceu-me tão real!
Hoje, o silêncio é de ouro, porque esse consegue dizer mais de mim do que qualquer palavra que possa aqui escrever...