Porque me tocas
E não te sinto... ?
Porque te vejo,
E não estas perto?
Porque é que existes
Mas não sei onde estas?
Porque te ouço
E estas ausente?
Porque consigo ver o teu rosto
Sem estares presente?
Porque me embala a tua voz
Sem te pedir?
Porque me fazes sorrir
e chorar ao mesmo tempo?
Diz-me…
Diz-me porque é que te sinto.
Atribuíste um ar da tua graça.
Compareceste sem ninguém mais esperar por ti, quando já todos te suspiravam, quando já haviam espalhado a esperança de te sentir entre nós como é usual.
Todos, não. Desculpa. Eu não sinto a tua falta, não da maneira como te ostentas sempre sólido na tua presença, sempre ágil da maneira como te deslocas, sempre expedito não aparecendo no tempo certo que a ti te é destinado e ressuscitando do meio do nada quando já todos menos te acreditam.
Por mim, podias deixar de existir mesmo. Mas o que eu quero ou desejo não importa. Nem pareces te importar. Eu sei que não significo nada para ti, porque sabes que também não significas nada para mim. Mas sei que voltas sempre. E isso é certo.
Talvez um dia deixes de existir. Ou talvez um dia eu deixe de te sentir.
É essa a minha grande esperança.
Sinto em silêncio.
Um silêncio que domina por completo o ar que respiro e que me trespassa por completo o corpo, o pensamento, a minha alma. Sinto-me perfeitamente à deriva nas minhas reflexões enquanto nada me perturba, nem me rouba a atenção que concentro nesses momentos. Instantes esses que falo de mim, das minhas reacções, dos momentos já vividos e relembrados, das acções loucas ou secretas que já cometi em tantos acasos da vida. Sinto que perdi em ser como sou em determinadas alturas. Noutras ganhei a confiança, uma amizade, uma gargalhada. Outras não me deixaram tão feliz, arrancaram-me lágrimas, emoções que preferi esconder para não me revelar aos olhos de ninguém.
Mas são nestes momentos em silêncio que a balança pesa e pende mais para um lado ou para o outro, é nesses momentos que me avalio, me julgo e me concentro.
Sinto a harmonia. Sinto o ar que respiro absorvendo os aromas que me circundam e que me embriagam em intensos momentos como este.
Sinto-me sem corpo, sinto-me apenas através da Alma.
“Os silêncios são das maiores forças do crescimento psíquico. Representam tempos de pacificação, de resolução de conflitos, de reencontro, mas também são espaços de abertura, portas abertas à comunicação e ao preenchimento do que existe à nossa volta. Surpreendem. Marcam. Fazem adormecer, tanto quanto fazem sonhar.”
Pedro Strecht