Olho-me no escuro. Reflicto impressões. Absorvo o que me envolve. Sinto o ardor que me circula nas veias. Amo a melodia que toca sem parar e que se repete indefinidamente a meu comando. Fecho os olhos, pressinto a presença de alguém. Está longe, mas aproxima-se. Devagar, mas sólido no seu percurso. Sinto calafrios. Mantenho-me firme. Não ouso olhar para trás, prefiro até nem ouvir os seus passos silenciosos que seguramente caminham em minha direcção. Imagino-me noutro local, talvez num sítio seguro, longe, em que não me alcanças. Apenas me consegues observar. Ainda que fixamente. Absorvo a energia que sinto no ar. Sinto ansiedade, desejo, ânsia de estar perto, serão os meus desejos ou os teus? Aceno com a cabeça em sinal de negação, quero-te longe, mas algo me retêm. Fico ali, estagnei. Algo me prende os movimentos. Sinto uma fragrância que me é familiar. Quero desaparecer dali, mas não consigo. Quero gritar mas não me sai som algum, tenho urgência em seguir em frente, mas sinto-me presa. A um passado. A uma história. A um sentimento. Aquele momento. A ti. Será esse o meu destino??
Já chorei muito em diversas situações, porque perdi alguém para sempre, por relações amorosas que me deixaram destroçada, por estar numa pilha de nervos, por errar e magoar os outros com as minhas atitudes menos correctas e reconhecer posteriormente, por um infindável de motivos que fizeram libertar as lágrimas descontroladamente ao ponto de me olhar no espelho e estar com os olhos completamente vidrados, vermelhos e inchados. Nunca fui capaz de chorar á frente de ninguém, ou pelo menos foram raras as ocasiões em que isso aconteceu, sempre desempenhei o papel de uma mulher forte que enfrenta as adversidades da vida friamente e que não se vai abaixo em situações mais complicadas, não porque ache que é uma forma de humilhação, sinto sim, que é um momento verdadeiramente intimo e que apenas a mim me pertence. Sentia-me aliviada, leve, depois de uma sessão de choro, sentia-me renascer, tirar um peso de mim, a vida parecia que ressurgia das cinzas… aguardava apenas por aquele momento precioso, para estar sozinha e puder libertar o que sentia.
Em determinada altura da minha vida, não sei precisar bem quando, deixei simplesmente de o fazer. Sinto necessidade de chorar para aliviar o que me atormenta, sinto necessidade desse momento único, mas não verto nem uma lágrima, mesmo querendo que tal aconteça. Sinto que algo me bloqueia, que me retrai , sinto que acumulo uma angústia constante que vai me matando e a cada momento que passa , aos poucos um sentimento de magoa, de ressentimento vai crescendo.
Continuo a desempenhar o papel de forte, de uma mulher destemida, apenas agora sinto vontade de lavar a alma e não consigo.
Choro, mas sem lágrimas…
Careço de dias assim. Em intenso silêncio. Entregue a mim mesma.
Consumir tudo o que se passa à minha volta, de reflectir, de olhar para trás, mas seguir em frente, sinto desejo de me evadir, de soltar amarras, como quem solta um barco do porto e segue por águas ainda não navegadas. Apetece-me dizer Adeus. Adeus a tudo, ao Mundo, à vida que deixo para trás. Tenho necessidade constante de me sentir livre, a rotina limita-me, sinto-me como um pássaro preso a uma gaiola, tenho urgência em voar, de me sentir livre! Sinto um aperto, largo um compromisso, rasgo uma carta escrita. Necessito de navegar. De sonhar bem alto, de soltar os sonhos, desatar o que me prende, o que me segura, o que me restringe.
Apetece-me largar tudo, de não olhar para a vida que aqui deixo, o hábito, os dias consecutivos de um despertador que toca sempre à mesma hora, não sentir a Saudade, a Melancolia.
Necessito de Sonhar.
Necessito de me redescobrir…
Hoje estou aqui para vos falar de algumas recordações da minha infância, que já a mim me parece um pouco longínqua diga-se de passagem, mas que me recordo como se tivesse sido ontem a viver estes pequenos momentos que me deixam alguma saudade.
Lembro-me tão bem de que naquele tempo, talvez porque as creches ainda não estivessem tanto em voga como nos dia de hoje, tinha apenas uns três ou quatro anos de idade e já ia todos os dias com a minha mãe para a casa de uma senhora para a qual ela trabalhava e que vivia no outro lado da cidade. Apanhávamos o autocarro quase de madrugada e lembro-me de tanta vez, fizesse frio ou chuva, ali estava eu num lugar sentado bem perto da janela a desenhar rabiscos nas janelas embaciadas. E lá ia, naquela viagem que já tão bem conhecia, mas que todos os dias pareciam uma nova descoberta para mim. Assim que entrava no autocarro, mostrava com orgulho uma fotografia que trazia comigo, como se do meu passe se tratasse, o fiscal sorria e acenava afirmativamente, em sinal de reconhecimento. Lembro-me que metiam conversa comigo devido a ter, ao que vulgarmente chamamos de “totós” e a minha resposta era sempre a mesma.
-Um é do meu pai, o outro é da minha mãe.
Se soubessem bem o que me custava quando a minha mãe pegava nos meus longos cabelos para os pentear!
(Ainda hoje me arrepio só de me lembrar]
O mundo lá fora desaparecia, as luzes dos candeeiros davam lugar a claridade do dia, as pessoas apressadas apinhavam-se no autocarro e lá fora. Ouvia as conversas dos desconhecidos, que cada dia que passavam me pareciam mais familiares, e que se acomodavam nos lugares que pareciam escassear, sem perceber muito bem do que falavam, todo aquele movimento era mágico para mim, habituada a que estava ao silencio da minha casa, em que apenas eu era a animação. Sempre tive pena de não ter tido mais irmãos, mas nada podia fazer quanto a isso.
Quando lá chegadas, a minha mãe recomendava-me sempre o mesmo, porta-te bem, dizia ela…
Ficava a observa-la a trabalhar, enquanto tentava arranjar alguma brincadeira, algo para passar o tempo para voltar outra vez a fazer aquela viagem de autocarro.
Não era complicado, mas difícil seria portar-me bem…
Ainda hoje a minha mãe se lembra de algumas dessas aventuras.
Pode ser que um dia destes eu vos conte…
Sabia muito bem o que pretendia de ti.
Deixei-te pensar que estaria sob teu controle, deixei-te analisar os limites da minha resistência, avançares ate perceberes que nem tu próprio irias suportar. Roçava-mos os nossos corpos, as minhas mãos sondavam cada centímetro do teu peito, fazias-te de distraído, sorrias em resposta aos meus avanços como se eu não soubesse o efeito que isso te estava a causar. Queria tocar-te devagar, fazer-te sofrer também.
Aproximei os meus lábios dos teus e em pequenos gestos circulares abordei os teus lábios carnudos. A espera já tinha sido longa, agarraste-me e quase que perdia o fôlego, quase me engoliste naqueles instantes seguintes, a sofreguidão da demora deixou-te louco, entregue ao desejo que te consumia, e a cada beijo teu, a nossa entrega era mais que evidente, eram beijos dados com gula, e os teus gestos tinham perdido qualquer pudor, aprisionaste os meus seios e quase me despiste mesmo ali. Fiz-te parar por alguns instantes e chamar-te à razão. Não estávamos precisamente sós.
Abandonamos a sala e depressa estávamos noutra divisão, não mais pequena do que aquela onde tínhamos estado, mas desta vez longe dos olhares indiscretos dos empregados.
Voltaste a olhar para mim, quase como um cachorrinho abandonado. Senti-te um pouco confuso, mas sequioso, e voltamos a cruzar as nossas línguas num desespero inexplicável, agarraste-me, puxaste-me contra ti, as tuas mãos tocavam já na minha pele por baixo do tecido e senti o meu corpo a chamar por ti, completamente rendido ao desejo de paixão, de entrega. Afaguei o teu membro excitado, desejei sentir-te dentro da minha boca, desabotoei as tuas calças e rodeei a tua glande com a minha língua, comecei a sentir -te húmido. Engoli-te ainda mal te tinhas apercebido e senti o teu membro crescer a olhos vistos, soltaste um gemido de prazer e enquanto que em movimentos regulares te saboreava, olhava para as tuas expressões, alheias ao que se passava em volta, apenas saboreando o prazer que aflorava em ti. O teu corpo ardia, depressa te obriguei a despir o resto da roupa que ainda resistia. Sentiste-me, apertaste-me contra ti e os meus seios já roçavam no teu membro, apertei-os, senti-te crescer, vibrar com a sensação que aquele gesto te causou. Fizeste-me debruçar contra a secretaria em que estavas apoiado, desviaste o fio dental e entraste por mim dentro, fui incapaz de manter o silencio, senti-te, perdi-me no desejo de ser possuída por ti, os nossos gemidos confundiam-se, a respiração parecia apenas uma só, Com uma das tuas mãos sentias o meu seio que se oferecia ao teu gesto, permanecendo rijo, sequioso do teu toque, ao mesmo tempo que te apoderavas do meu corpo, puxando-.me contra ti, entrando dentro de mim, com sofreguidão, a tesão de ambos aumentava inevitavelmente, os movimentos regulares faziam nascer ondas de prazer que se reflectiam em dois corpos nus e suados. Estava completamente entregue à paixão, já nada importava naquele momento, nem o tempo que ia lá estar, nem o facto de saber que poderia estar a criar-te esperanças. Agora era aquele momento, e era esse que me estava a deixar tonta. Numa ânsia de desejo, o orgasmo chegou intenso, devastador, tombando-nos e jogando-nos nos braços um do outro, ofegantes. Debruçaste-te por cima de mim e ali ficamos algum tempo. Permanecemos calados.
O futuro seria o amanha. E o amanha ainda não era agora.