Encontrei-te ali. No local combinado.
Aquele mesmo sitio que nos separou pela ultima vez, que tinha nos levado a caminhos opostos, que tinha servido de ponto de referencia em alguma altura, em algum momento mais feliz nas nossas vidas, mas que se tinha alterado com o passar do tempo, agora apenas nos recordávamos dele, como um símbolo de uma separação forçada, mas que por instantes, agora e ali naquele momento servia novamente para mais um encontro fortuito para recordar, reencontro esse já á tanto tempo adiado.
Combinado apenas a algumas horas atrás sem saber o que iríamos sentir, quando nos reencontrássemos novamente, depois de tanto tempo de uma ausência forçada, recuperada agora naquele momento e que se desvaneceu como se de breves instantes se tratasse. Todo o tempo de espera tinha evaporado no ar. Perdeu-se até no espaço e nada disso nos fazia recuar ou mover um passo atrás, na decisão que tínhamos tomado.
O dia parecia ter ajudado, deixava antever um dia de sol, apesar do frio que se fazia sentir, logo pela manha, acompanhado de uma brisa gelada que nos fazia tremer, gelar por fora, apesar do calor que me percorria o corpo naquele exacto momento, algo a que já estávamos habituados pelas cidades que vivíamos, ambas no interior apenas bem longe uma da outra e eram esses imensos quilómetros que nos separavam, que nos afastavam alem de muitas outras coisas que nada tinham a ver com a geografia.
Perto da varanda que protegia o átrio daquela pequena igreja, olhavas a paisagem. Senti-te distante, apesar do sorriso que soltaste quando me viste. Continuavas o mesmo apesar do tempo ter passado por nós, sempre risonho, sempre aquele olhar triste, que se desvanecia quando pousavas o teu olhar no meu, mas que depressa regressava, quando a memoria te atraiçoava.
Olhei-te do mesmo modo, inclinando um pouco a cabeça, apreciando o que me fez mover durante tanto tempo, o que me fez lutar, o que me fez acreditar que a força de um sentimento era capaz de tudo. Veio-me à memória muita coisa. Muita coisa que durante este tempo tinha feito um esforço para esquecer, deixar num passado à muito enterrado, levado pelas cinzas….
Continuamos assim, durante alguns instantes, sem saber bem o que dizer. Paramos, como se o tempo também tivesse parado à nossa volta, esperamos uma reacção, mas nenhum de nos se moveu, durante aqueles segundos, que pareceram horas.
Finalmente, conseguimos reagir, mesmo que um pouco a custo, nem sei bem quem falou primeiro... Senti um abraço apertado, não em demasia, apenas um abraço, um gesto como tantos outros, sem nada de mais. Vazio. Vazio de paixão, vazio de algo profundo, sentido, sem vigor, sem alma ou compaixão. Senti apenas um corpo. Um ser que se reencontrou com um passado à muito esquecido, apenas guardado, intocável para o resto do mundo. Mas que simplesmente se esqueceu de como era bom sentir, sentir o calor de uma paixão, agora morta. Levada pelo vento, levada pela memoria.
Senti-te assim. Apenas ali.
(Continuação….)