Estávamos numa daquelas noites de Primavera quentes mas que persistia em cair aquela chuva muito miudinha, e como sempre tive pena que tivéssemos que ir embora, pois cada um de nós tinha a sua vida em cidades diferentes, o que tornava complicado os nossos encontros. Mas já depois de nos termos deliciado com um simples jantar numa esplanada ao pé da praia, e de termos passado horas a caminhar ao longo dela, naquela cidade que sempre foi a preferida para nós, chegámos à conclusão mas a muito custo, que estava na hora de retomarmos os nossos rumos…
Ao som de uma melodia que estava a dar na rádio, e já na auto-estrada revivia o resto de noite que tinha passado ao teu lado assim como me recordava de tudo o que tínhamos falado. A noite estava clara, apesar da chuva que caia no pára-brisas e contava chegar a casa dentro de uma hora aproximadamente…
Envolvida nestes pensamentos, um ruído fez-me voltar à realidade, era o telemóvel que tocava.
-Então, passa-se alguma coisa…? Perguntei eu depois de olhar para o visor e ver que se tratava do João.
- Sim, tive uma avaria e como aqui não há luz, pensei que podias….
-Assim que chegar à próxima saída dou a volta. Disse eu sem hesitar, adivinhando os pensamentos dele.
-Até já, vem com cuidado…
Assim que cheguei, ao fim de já quase uma meia hora, estivemos ali uns minutos debruçados a tentar descobrir o que se passava, sem grande sucesso… desistimos e aninhamo-nos dentro do carro devido à chuva que caia agora mais forte, fazendo aquele som habitual dos pingos a bater no vidro.
- Sabes, o que estava mesmo a precisar era de companhia, já chamei o reboque… disse-me com um olhar de sacana, como lhe costumava chamar sempre que ele fazia aquela cara de criança mas cheio de segundas intenções.
Quando dei por mim, já estávamos entregues aos nossos beijos, intensamente como sempre acontecia, quando cedíamos ao prazer, puxaste-me para ti, agarraste-me com força e sentia-os como pedidos de entrega, de paixão compulsiva, de tesão… depressa desapertei-te os botões das calças e agarrei o teu sexo que denunciava o teu desejo e abstraída ao movimento constante do trânsito que passavam mesmo ali ao lado, agarrei-o e com movimentos vigorosos chupei-o, lambi-o enquanto observava a tua expressão…
Não tardaste em desapertares-me as calças, alheio aos desejos do teu corpo de um orgasmo quase instantâneo que teimaste em adiar, e enfiaste com cuidado a tua mão à procura do meu clítoris que estava latejante já naquela altura, húmido, entregue ao desejo prévio do que se iria passar… soltei um gemido quando senti os teus dedos, não parando de te acariciar, de te morder os mamilos, de te tocar…
Os vidros embaciados pelo ar quente das nossas respirações acusava perfeitamente o que estávamos a fazer, mas nada nos iria parar…
Algum tempo depois, já no caminho de volta a casa, sorria denunciando os motivos que me fizeram voltar para trás… sempre soube que não se tratava de uma avaria súbita, o que seria improvável visto que o carro dele tinha vindo de uma revisão no dia anterior…
Estou aqui para te escrever esta carta, embora saiba que não a vás ler, mas ultimamente tenho pensado mais em nós e esta foi a melhor das maneiras que encontrei para afagar a dor, para libertar as emoções que escondo, para gritar ao mundo sem que ninguém me ouça, o quanto sinto a tua falta... sabes bem como sou com sentimentos, não é fácil deixar transparecer o que me vai na alma, serei sempre forte para o resto do mundo... mas não para ti.
Não sei se é porque tenho passado para o papel algumas das experiências que passamos juntos, e isso me tenha reavivado ainda mais as memórias que tenho de ti, se é apenas a saudade que tem aberto mais as feridas que ao longo do tempo tem custado a sarar e que tenho tentado esquecer-me que existem, se é porque ultimamente tenho ouvido mais "o meu primeiro beijo...." mesmo sem ter comprado o disco, se foi pelas fotografias que à tanto tempo perdidas e que pensava que não as voltaria a encontrar, apareceram como magia.... São sinais, que não sei o que significam, mas devolve em mim uma ténue esperança que nada morreu, que apenas foi adiado e que aqui ou noutra vida qualquer vamos recuperar... quem sabe se o destino não nos volta a unir, sabes bem que não acredito que a vida tenha caminhos previamente traçados, conheces-me bem, melhor que ninguém , diria mesmo...mas, mesmo assim quem sabe o que o futuro nos reserva. Posso apenas te falar no presente, e neste momento apenas me apetecia dizer-te........
- Olá, meu amor..........
Levaste-me para tua casa depois de um jantar já à algum tempo planeado.
Não me canso de sentir esta doce sensação que me percorre o ego…
Gosto de sair à rua e à medida que o meu corpo balança, agitando-se a um ritmo mais ou menos compassado, sinto os olhares de quem me segue, de quem me vê, como uma Mulher, como ser sensual, como aquela que desperta o mais bravio dos instintos em ti, naquele lá do canto, e em mais alguns que se juntam a este rodopiar de olhares que me seguem, que me apreciam, que sonham…
Preenche-me a alma saber que apesar de não ser o modelo ideal de mulher que há quem me siga com o olhar e que fingindo que não vejo, que não estou atenta, e até distraida, lanço um olhar discreto como quem não vê, ou não se percebe do que se está a passar em redor … discreto, mas que sendo inofensivo, parece dizer... podem olhar, apreciar, admirar... Sei que o meu olhar me revela, mas não me canso de me rir por dentro, imaginar, sonhar… assim como os vossos devaneios apenas se tratam de sonhos, que nada vão mudar, alterar ou realizar…
Sorrio ao pensar que apesar de não ser perfeita, há quem aprecie, delire, e se volte na minha direcção, apesar de não parar, não me denunciar, não me revelar enquanto me afasto e deixo para trás um perfume envolvente, que me envolve a mim, a ti, aos outros lá do canto e a mais alguns….
Gosto de me sentir desejada, admirada, cobiçada pelos sentidos, especialmente por ti,mas nao impeço ninguém de olhar...
A vossa imaginaçao alimentam as vossas fantasias, o meu ego, e o meu grande prazer de ter nascido Mulher...