Sentia-me satisfeita por ter decidido a sair de casa.
O que realmente estava a precisar era de ter por perto existências, sem ser a minha.
Mesmo que só.
Nunca fui de muitas lamúrias, a vida assim me tinha demonstrado que sentir pena de nós próprios, não fazia de nós melhores pessoas, ou transformaria alguma coisa se não fossemos nós próprios a pensar de uma outra forma, a encarar a vida numa outra perspectiva.
O restaurante começava a ter outro ambiente. As mesas pareciam agora ter mais vida, aos poucos iam entrando casais de namorados que lá se iam acomodando e trocando confidências, sorrindo através de uma ou outra piada lançada por um dos membros. Entraram também alguns casais com crianças, algumas delas demasiado irrequietas que remexiam com a paz que ainda se conseguia sentir, dando alguma vida, e provocando nos pais algum desagrado, alguns mais ferozes que outros….
Algumas mesas estavam reservadas para grupos maiores, talvez comemorações de aniversários. Os empregados começavam a circular com algum vigor, parecendo darem bem conta do recado.
Uma mesa em particular tinha cativado um pouco mais a minha atenção.
Sentado, numa mesa mais distante estava um homem acabado de chegar, que cativou os meus sentidos. Tinha um rosto bem delineado, másculo, e transmitia uma calma invejável. Tinha muito bom gosto no vestir, dando-lhe um certo charme e o seu porte altivo dava-lhe uma imagem difícil de ignorar. Transmitia segurança, e fazia parecer que a experiência de vida tinha-lhe dado um certo á vontade para estar bem em qualquer que fosse o ambiente em que se encontrasse mas sem entrar em exageros.Os seus olhos, negros como olivas, perdiam-se pelo restante espaço não ocupado por si mesmo, embora parecendo ausente nos pensamentos, não parecia perdido, apenas absorto no que envolvia a sua mente. Fez sinal ao empregado que passou mesmo ao lado da sua mesa, e depressa foi atendido. Tinha um ligeiro sorriso nos lábios que lhe dava um ar misterioso, perigoso, até. Fazia lembrar aqueles actores de cinema inatingíveis, que nos chegam pelo ecrã de uma sala de cinema, e que almejamos ter um dia aos nossos pés, mas que sabemos que se trata de algo impossível de alcançar.
(No entanto quem nos proíbe de sonhar, não é….)
Estava tão distraída que nem reparei que mesmo ao lado, se tinha sentado um casal amigo que depressa se fez notar que ali estavam, quando deram pela minha presença. Preferia que não o tivessem feito. Até á pouco tempo queria estar acompanhada, para me distrair, e não pensar no que me tinha deixado naquele estado à horas atrás, e agora deparava-me com uma vontade enorme do contrário, queria tanto ter passado despercebida aos olhares dos outros e sempre que podia agora deitava um olhar disfarçado, subtil aquela mesa, aquele homem que tinha prendido a minha atenção.
Entre gargalhadas e conversas de ocasião acho que ninguém deu pelo meu interesse.
Isso deixou-me aliviada.