Estremeci.
Fiquei com a certeza que tudo tinha realmente se alterado. O que tinha acontecido, pertencia, de facto, a um passado, que persisti em alimentar e em acreditar que ainda não estava perdido. Preferi alimentar uma esperança, uma réstia de sentimento durante mais de um ano, mas tudo não tinha passado de um equívoco.
Percebi que tinha cometido um grave erro naquele exacto momento.
Engoli em seco, senti uma mágoa que me encheu o peito rapidamente, como se tentasse trespassar um corpo, agora frágil desprovido de razão para manter esta existência viva.
Tentei permanecer firme, segura, não deixei transparecer o que me ia na alma naqueles instantes, apenas me perguntava com alguma insistência o porque. De estar ali. Sorria, embora se tratasse de um sorriso amarelo, até forçado, sentia-me uma actriz ignorada numa cena de um filme que contava uma história de amor que ninguém patrocinou, apenas tratando-se de mais um fracasso cinematográfico de um realizador qualquer…
Perdia-me nestes pensamentos enquanto tentávamos disfarçar, e evitar algo que sabíamos muito difícil conseguir contornar. Sentei-me naquele banco de jardim já gasto pelas intempéries, pelas estações do ano que se sucediam, sem olharem para trás… finalmente resolvi perguntar-te o porque de estarmos os dois ali... Olhaste para mim e instalou-se um silêncio implacável…
Apenas se ouvia o passar do vento, e um murmúrio provocado ao passar por entre as arvores já sem as suas vestes, que circundavam aquele minúsculo pátio, quase secreto de uma igreja construída no sopé de um pequeno monte mesmo à entrada da cidade … mas quase esquecida por quem ali habitava, apenas relembrada quando no Verão o regresso dos emigrantes, dava mais vida aquele local.
Não soubeste responder. Apenas baixaste o olhar, como quem não queria reconhecer o que estava a vista de ambos. Não querias admitir que o que estava a acontecer ali, eram apenas duas pessoas que não queriam reconhecer que o passado já lá ia mas que teimávamos em deixar sempre uma ponta solta em algo que não queríamos por um ponto final.
Uma historia que se repetia indefinidamente já á muito tempo, sem fim à vista….
Seguraste-me nas mãos, aproximaste-te de mim…
Senti o calor que emanava do teu corpo apenas com aquele gesto.
Esperei.
Olhaste-me, ainda sem saber bem o que dizer, mas algo magico percorreu aquele momento…
- Sabes bem porque estou aqui. Respondeste finalmente….
Olhei para ti, fixei o meu olhar no teu, finalmente aceitei o que se tinha transformado em apenas uma memória que mantinha ainda viva.
- Não. Já não sei. Percebi isso agora.
Dei-te um beijo no rosto.
Virei as costas. Não olhei para trás.
Nunca mais lá voltei.
Nunca mais te vi.