A sua presença não tardou a se fazer sentir naquilo a que se aproximava a um alpendre, no mesmo local onde eu me encontrava uns metros mais afastada.
Pude observa-lo enquanto batia as botas para expulsar a areia que se tinha acumulado, enquanto abanava a capa que trazia aos ombros. Seria praticamente impossível ainda não se ter apercebido da minha presença ali, mas se já me tinha visto parecia ignorar.
Aparentava estar na casa dos trinta, era alto, cabelo louro encaracolado bastante desalinhado, olhos rasgados de um azul escuro profundo, e algumas rugas na sua face já se faziam notar, a sua pele parecia tostada, aparentava sinais de quem passa muito tempo ao sol, e se não tivesse visto que vinha do mar numa traineira, diria mesmo que apesar de todo o seu aspecto global, não aparentava pertencer aquele local, parecia ter tido uma educação bem diferente, apesar do seu aspecto rude e já um pouco desgastado. O seu corpo era proporcional e as suas mãos fortes e musculadas, igualmente morenas iguais à pele do rosto. O seu olhar parecia distante, arriscaria mesmo completamente absorvido nos seus pensamentos, olhou para o mar um pouco de soslaio, parecia estar a avaliar a tempestade que parecia aproximar-se a passos largos.
Eu estava quase petrificada com aquela presença, que me ignorou completamente fazendo-me sentir completamente imperceptível aos seus olhos. Fiquei sem saber como reagir, se haveria de dizer alguma coisa ou ficar calada, ao mesmo tempo que tentava abrigar-me do vento e dos salpicos de chuva grossos que já se faziam sentir.
O céu ficou escuro, as nuvens negras cobriam-no agora aquele que outrora se apresentava azul e apenas com algumas nuvens aqui e ali, quase não parecia o mesmo local que à duas horas atrás parecia tão convidativo.
Hesitei.
Sentia-me tentada a faze-lo embora não fosse muito correcto, mas visto que não tinha nenhum sitio tão perto para me abrigar, resolvi arriscar.
Caminhei com alguma dificuldade ate lá, os meus pés enterravam-se cada vez mais fundo com a genica que empregava no passo, tentava olhar em frente mas o vento tinha-se intensificado entre o seu início e me ter decidido a andar, tentava proteger os meus olhos dos grãos de areia e a visibilidade tinha diminuído consideravelmente.
Entretanto, o barco já estava ancorado e pareceu-me que aquele vulto, se dirigia aquela casa e eu não seria de todo uma visita desejada, mesmo que fosse apenas para me abrigar da tempestade de vento que se tinha levantado naquela altura, num pequeno telheiro que sobressaia da casa.
Eu chegaria muito mais depressa, e assim aconteceu. Fiquei a observar, de um lado as pessoas que arrumavam apressadamente as suas toalhas, os chapéus e as lancheiras e que se dirigiam à vila para regressar às suas casas, e do outro lado a figura que se aproximava, agora claramente identificado como um vulto masculino, também cobrindo o rosto da maneira como podia e que claramente me estava a provocar um nervoso miudinho visto que ao que tudo indicava estaria a invadir a sua privacidade, sem saber bem como me explicar, embora tivesse à vista a razão pela qual estaria ali.
Só me restava esperar pela sua chegada.
Não penses, age. Não sonhes, realiza. Não adormeças, acorda. Não esperes sentado pelo que deves ser tu a procurar. A vida não espera pelas nossas decisões. Quando menos esperares a vida já passou por ti.
Na noite admiro a vastidão, a vida parece deter-se e reflectir. Sobre o dia que desaparece, sobre as proezas que recheiam o espaço da vida.
No silêncio vadio, a noite fica mais sombria, as estrelas brilham mais alto, o meu pensamento flutua entre o espaço desabitado. Imagino-me na cauda de um estrela a percorrer o mundo e a levar-te comigo. Olho para baixo, imagino a vida como algo que não atinjo, algo que não sigo.
Prefiro sentir-me assim, os pés assentes na terra cegam-me. O sonho eleva-me até ao meu escuro recanto, ate à nuvem que me segue o rasto, até ao espaço onde o pensamento vai voar mais alto e seguir o seu caminho. Não há brilho na paz que sinto nesse silêncio que me percorre.
Solto uma lágrima e outra ainda sem pensar. Sem ti não contemplo o futuro, nem a escuridão que me imita, apenas as sombras que ficam para trás, como a nossa história, apenas com um princípio e um meio sem nunca chegar ao fim.
Todos nós pudemos dizer o que sentimos. Apenas importante sera a escolha das palavras para o expressar. (Minha autoria)